MILITARES NA POLÍTICA

Um guia para persuadir brasileiros de que lugar de militar é longe da política

Um país dividido: 47 x 48

A opinião pública no Brasil racha ao meio quando o assunto é “presença de militares na política”. Segundo o último DataFolha, 47% dos brasileiros acreditam que militares poderiam ocupar cargos no governo contra 48% que acham que eles não poderiam. 

É curioso que, mesmo dentro da esquerda, existe uma parcela significativa que não é contrária à presença de militares no governo: 38% dos que se declaram petistas são favoráveis ou indiferentes a essa questão. 

Para este episódio de Como Falar Sobre decidimos focar justamente nesse público, os progressistas, afinal eles nos parecem os mais próximos de mudar de opinião.

O que funciona para defender
a separação dos militares da vida política

1. É importante reconhecer para o seu interlocutor que as Forças Armadas (FA) têm sim uma função

Muitas pessoas, inclusive as que se identificam como progressistas, reconhecem o papel das Forças Armadas na proteção do território e no auxílio durante calamidades. E esse é um dos primeiros argumentos pelos quais militares deveriam ficar fora da política: essa missão requer dedicação exclusiva!

 

2. Mas na sequência dizer que a entrada dos militares na política compromete a sua neutralidade

Em um país já marcado por divisões, a politização das FA só serve para aprofundar essas divergências. Para que possam exercer seu papel constitucional primordial - isto é, proteger o território nacional - os militares PRECISAM ZELAR pela neutralidade e não tomar partido de causa A ou B, candidato X ou Y.

 

3. Enfatizar que membros das FA vão para a política para perpetuar privilégios da categoria. E eles são muitos!

A busca dos militares pela política não se justifica apenas pela sede de "poder". Um dos principais motivadores para essa inclinação é a preservação de interesses corporativos.

“O que eles querem é continuar na mamata!”

Os militares no Brasil desfrutam de uma série de privilégios: pensões extensivas a inúmeros familiares e regimes de aposentadoria especial, que permaneceram intocados mesmo diante das recentes reformas. Esses privilégios destacam-se ainda mais em um cenário onde outras categorias enfrentam cortes e ajustes, evidenciando um desequilíbrio que precisa ser combatido.

 

4. Mostrar que a imagem de disciplina associada às FA não se reflete em integridade e ética na vida pública

Há uma miríade de exemplos recentes que apontam para irregularidades e suspeitas de corrupção envolvendo militares na política.

“Exemplos disso não faltam…”

A arena política demanda um alto grau de transparência, responsabilidade e um comprometimento firme com os princípios democráticos. Essas características essenciais não podem ser presumidas como subprodutos da formação militar.

 

5. Destacar que as competências militares tampouco se transferem automaticamente para gestão e vida públicas

A política e a vida militar são dois mundos totalmente distintos. A política exige um conjunto único de habilidades, conhecimentos e uma sensibilidade especial, que não são propriamente o ponto forte dos quartéis.

“Político tem que ter jogo de cintura.”

Acreditar que a excelência no ambiente militar se traduz automaticamente em competência na administração pública é um erro grave, que pode levar a resultados catastróficos. A crise da pandemia de Covid-19 infelizmente ilustrou essa realidade.

 

6. Insistir que militares não são uma categoria qualquer na sociedade, pois eles detêm o uso legítimo da força

Devido ao seu acesso a armamentos e treinamento, os militares têm um potencial inerente à coerção. Quando militares se envolvem diretamente na política, há um risco iminente de que esse poder de coerção seja usado para influenciar eleições, suprimir a oposição ou controlar o discurso público. Esse poder desequilibra o jogo democrático e ameaça as liberdades civis.

“Quem tem arma na mão não pode ter mais poder.”

 

7. E, por fim, lembrar a história da ditadura como exemplo muito didático do que acontece quando militares entram para política

Claro que ainda há quem relativize as atrocidades da ditadura militar no Brasil, mas para pessoas que se identificam como progressistas essa memória é ainda muito forte e serve como lembrete sombrio do que pode ocorrer no país quando militares se envolvem na política.

EM SÍNTESE

As Forças Armadas foram criadas para a guerra
e sua presença na política perturba o equilíbrio delicado das instituições democráticas.

Recomendações

  • Não adianta falar só com os amigos que concordam com você, precisamos também falar com o pessoal que não tem uma opinião muito definida sobre esse tema e às vezes até foge do assunto. É importante lembrar que essa galera não está longe: eles são progressistas como nós.

  • Focar inicialmente na atribuição oficial das FA já ajuda a colocar você e a pessoa com quem conversa na mesma página. Recomendamos este vídeo.

  • Enfatize como os privilégios militares criam uma desigualdade injusta e como a presença deles na política pode perpetuar essa situação. Matérias como esta e esta podem ajudar bastante.

  • Apresente casos específicos e mostre como transparência e integridade não são necessariamente os fortes dos militares quando embarcam na política. Este vídeo é um primor e estes casos aqui falam por si só.

  • Termine sua argumentação com uma visão positiva do futuro, destacando como uma separação clara entre militares e política pode levar a uma sociedade mais estável, justa e democrática. E até alguns militares concordam com isso.

Curiosidades

  • Há uma diferença fundamental entre os perfis que são contrários e os que são favoráveis à presença de militares no poder. E não é sobre a visão que eles têm do mundo militar, mas sim quanto à visão sobre o mundo civil. Quem é favorável à presença de militares na política, tanto homens quanto mulheres, tendem a criticar o excesso de liberdade entre os civis. Essa liberdade, associada a desrespeito, egoísmo e hedonismo, está muito conectada com a avaliação que fazem dos mais jovens. Para esse perfil, a presença de militares na política se justifica especialmente nesta chave: como uma força de ordem para compensar os excessos do mundo civil.

  • Acredite se quiser, mas um dos principais argumentos em defesa da presença de militares - lembrando que os grupos focais foram realizados com público de recorte progressista - é a diversidade. “Tem que ter diversidade na política. Tem que ter o povo negro, quilombola, professor, LGBT… e tem que ter militar também.”

Metodologia

Foram realizados 04 grupos de discussão on-line com pessoas muito interessadas e que conversam muito sobre política no dia a dia, moradoras de São Paulo e Porto Alegre. No total, a pesquisa contou com 02 grupos com mulheres e 02 grupos com homens, todos com idade entre 35 e 55 anos, com ensino médio completo e da classe C, totalizando 28 pessoas ouvidas nos dias 18 e 19 de Outubro.

Os grupos foram organizados a partir da avaliação de valores sobre família, moral, segurança e aprovação ou não dos militares no governo, divididos da seguinte forma:

  • 02 grupos de mulheres que se autodeclaram de esquerda, sendo 01 grupo de mulheres com perfil a favor dos militares no governo e 01 grupo de mulheres contra militares no governo.

  • 02 grupos de homens que se autodeclaram de esquerda, sendo 01 grupo de homens com perfil a favor dos militares no governo e 01 grupo de homens contra militares no governo.