1º TÍTULO ELEITORAL

Como convencer jovens de 16 e 17 anos a fazerem parte da festa da democracia

Bora, galera, jovens

O voto facultativo para indivíduos de 16 e 17 anos foi estabelecido na Constituição Federal de 1988, mas nas últimas décadas foi pouco utilizado como ferramenta de mudança entre jovens. Isso, entretanto, veio mudando. Em 2022, tivemos a eleição mais jovem da História, mas não podemos parar por aí. 

São muitas juventudes que existem no Brasil - que tem hoje a maior geração jovem de sua história. É para essas pessoas que nós olhamos nesse Como Falar Sobre, para esses jovens que já são hiperconectados, vivem um momento de bastante ansiedade e pressão, seja por se aproximarem da vida adulta, seja pelo contexto pós-pandêmico e polarizado. 

Nesse episódio sobre 1º Título Eleitoral queríamos entender como conectar o voto com o universo em que esses jovens já estão inseridos, e chegamos a conclusão que precisamos usar a linguagem e as emoções certas para isso.

O que você precisa saber

1. Perfil do jovem eleitor

Jovens de 16 e 17 anos podem votar facultativamente no Brasil, e aqueles que agora têm 15 mas que vão fazer 16 anos até 6 de outubro também são elegíveis. Mas quem são? Onde vivem e o que fazem?

Esses adolescentes estão ansiosos e céticos em uma sociedade pós-pandêmica e polarizada. Por isso, em vez de focar em suas responsabilidades cívicas e aumentar essa ansiedade, é preciso tornar o ato de se registrar e votar como algo leve, divertido e descontraído. É possível dialogar sobre assuntos sérios de forma leve, com humor e muito meme. 

Eles se categorizam em introvertidos — que preferem ficar em casa ou saírem com familiares — e extrovertidos — que gostam de sair com amigos. Independente do grupo, gastam muito tempo assistindo séries, ouvindo música e mexendo em redes sociais, e formam suas opiniões principalmente através destas últimas.

 

2. Eles têm um sonho…

Esses jovens sonham com uma política que verdadeiramente represente e apoie o desenvolvimento das pessoas; que seja justa e beneficie os menos favorecidos; que promova igualdade e oportunidades para todos; e que seja democrática, dando ao povo o poder de decisão. 

Isso revela um olhar esperançoso e positivo sobre o potencial da política, ou seja, não está tudo perdido!

 

3. Mas a realidade é bem diferente

Apesar de terem esperanças, muitos  jovens deixam de se interessar pela política por terem uma visão de que está tudo perdido, e de que a realidade política é bastante distante do ideal. Eles são impactados por uma ideia de que a corrupção é prevalente, e de que políticos agem movidos apenas por interesses próprios.

 

4. Divisão de interesse político

Dentre os jovens que se dizem pouco interessados por política, nós encontramos três perfis:

  • Os jovens com baixa autoestima política, ou seja, aqueles que acham que o voto é uma decisão muito importante, mas não se sentem ainda preparados para fazer essa escolha. Se sentem ainda imaturos ou pouco informados, como se os seus conhecimentos não fossem suficientes para essa decisão. 

  • Os jovens que querem evitar qualquer tipo de conflito. Eles sabem que a gente está vivendo um contexto de polarização muito grande e que tomar um lado necessariamente significa assumir conflitos seja com os familiares em casa, ou com algum amigo na escola. Não querem entrar para uma guerra que não se sentem parte. 

  • Os jovens céticos são aqueles que duvidam da capacidade de mudança, sentindo que não vale a pena se engajar. Tanto faz quem vencer a eleição, é tudo igual. 

Enquanto os jovens que são entusiastas da política conversam sobre o assunto abertamente com amigos e familiares e buscam ativamente a mudança, os desinteressados tendem a evitar o envolvimento político até que seja obrigatório. Ainda que eles não gostem de falar sobre o assunto, costumam ter uma pessoa de confiança com quem trocam sobre política - uma tia, uma amiga, uma professora.

 

5. Formação das suas visões políticas

A principal fonte de informação política para os jovens são as redes sociais, seguidas pelo Google. Eles tendem a confiar em notícias de fontes reconhecidas como G1, Globo e Uol, mesmo que não sejam seguidores fiéis desses perfis. Para desenvolver uma visão política sólida, eles sabem que precisam acessar uma variedade de informações, embora isso possa ser desmotivador devido ao esforço necessário.

“Dá preguiça”

Além disso, a comunicação com pessoas próximas, como familiares, amigos e professores desempenha um papel crucial na formação de suas opiniões políticas. Jovens que vivem em ambientes mais abertos ao diálogo tendem a se interessar mais por política.

 

6. Desafios no Registro Eleitoral dos jovens

Informações básicas são relevantes: é crucial enfatizar que o tempo está se esgotando para o registro. Mas por que estão deixando isso para depois? Os principais motivos para a procrastinação incluem a percepção de que o processo é burocrático e complexo. Simplifique o registro eleitoral, explicando o passo a passo.

Sem pressão: Falar sobre eleições e política sem falar sobre eleições e política é um desafio, mas é possível: trazer os assuntos para temas mais próximos do dia-a-dia é uma forma de fazer isso. Transporte, lazer, emprego, educação são temas que interessam os jovens e que têm tudo a ver com política. 

Divertido: conteúdos meméticos engajam e é possível falar sobre assuntos bastante sérios usando linguagem divertida. 

Coletividade: conteúdos regionais, ou que estimulem um sentimento de coletividade seja regional ou geracional, de jovem para jovem, engajam.

 

7. O futuro a Deus pertence

O futuro é uma fonte de ansiedade para muitos jovens, ampliada pela instabilidade trazida pela pandemia, que impactou significativamente seus anos formativos. Muitos se sentem inseguros sobre alcançar seus objetivos e enfrentam baixa autoestima. Esta preocupação com o futuro e a ansiedade persistente também influenciam seu desinteresse em se envolver politicamente, pois entendem que já possuem problemas demais que ocupam todo o seu tempo livre, deixando pouco espaço para a incidência política.

EM SÍNTESE

PÚBLICO

Motivados a votar

Lembrá-los dos prazos para tirar o título, deixando claro quais são as etapas do processo e que pode ser um trabalho chato, mas necessário.

Desmotivados a votar

  • Querem paz

O voto das pessoas que não acreditam no mesmo que você te impactará, é uma batalha que precisa ser travada. 

Para esse perfil também vale explorar o sentimento de  nostalgia, ou de coletividade. Por exemplo: todo mundo se lembra de ir votar com os seus pais quando era criança. E aquele almoço de domingo com os amigos ou a família depois da eleição?

  • Baixa autoestima política

Incentivar a autoestima ao mostrar que só pelo fato de eles terem ciência das coisas que acreditam e defendem, já sabem o suficiente para votar. Ou seja, você não precisa entender tudo sobre economia, política etc, para votar. Os seus valores e o que você acredita já são suficientes para escolher o seu voto.

Aqui de novo criar um senso de coletividade geracional pode ajudar: a sua geração deve ser ouvida e valorizada.

  • Céticos

Utilizar especialmente humor e ironia para estimular o comportamento de manada.  Explorar a ideia de que se você não tomar essa decisão, alguém vai tomar para você e você pode não gostar. 

Por exemplo: você aceitaria o desafio de deixar alguém tomar as decisões do seu dia por um dia inteiro, inclusive com quem sair, o que vestir, etc? Você deixaria a sua mãe escolher todos os dias a roupa que você vai usar pra ir na escola? Não, né? Então porque na política você vai deixar outras pessoas decidirem por você?

Recomendações

  • Os jovens estão ativamente engajados nas redes sociais, então é essencial marcar presença nesses espaços. Usar referências populares de música e séries pode facilitar a comunicação e tornar o conteúdo mais atraente.

  • As escolas desempenham um papel crucial na educação cívica e esses jovens sentem que o papel delas nas Eleições deveria ser formativo. Ampliar o diálogo com instituições educacionais para fornecer informações imparciais sobre o processo eleitoral e os candidatos pode aumentar significativamente o interesse e a participação dos jovens na política.

  • Explicar o processo de obtenção do título de eleitor é fundamental. Destacar a acessibilidade do processo e a importância da participação na festa da Democracia pode motivar mais jovens a se registrar e participar ativamente das eleições.

  • As mensagens devem trazer otimismo. A gente tem que acreditar, e fazer acreditar, que já vencemos, que já somos o maior eleitorado jovem. Em 2022 construímos a eleição mais jovem da história do país e vamos continuar somando na força dos jovens. Não buscamos apelar para o medo, insegurança, falta de compreensão analítica, etc.

Metodologia

Foram realizados 06 grupos de discussão on-line, em fevereiro de 2022, com jovens que fariam 16 anos até 01 outubro de 2022 ou que já tinham 16 ou 17 anos de idade, de classe C, da capital ou da região metropolitana de São Paulo e Recife, com mix de pessoas que já tiraram título e que ainda não tiraram.

Os grupos foram organizados a partir da avaliação que faziam sobre o governo de Bolsonaro naquele momento e questões de gênero e praça:

  • Perfil Anti Bolsonaro - 03 Grupos com quem avaliava o governo como ruim ou péssimo e tinham intenção de votar contra Bolsonaro, sendo:

    • 01 grupo de mulheres de São Paulo (capital e região metropolitana);

    • 01 grupo de homens de São Paulo (capital e região metropolitana) e Recife;

    • 01 grupo de mulheres do Recife.

  • Perfil Desmobilizado - 03 grupos com quem avaliava o governo como regular:

    • 01 grupo de mulheres de São Paulo (capital e região metropolitana);

    • 01 grupo de homens de São Paulo (capital e região metropolitana) e Recife;

    • 01 grupo de mulheres do Recife.